sábado, 12 de março de 2011

Luta de argumentos...

sábado, 12 de março de 2011

Um fatality de Platão é o fim da linha pra você, amigo Sócrates!

Nascido em 469 a.C., Sócrates abraçou muitas das idéias da escola pitagórica, buscando provas da existência de um plano inteligente que existiria na construção do Universo. Interessou-se, portanto, menos pelo mundo dos fenômenos naturais, mas pelo mundo das idéias a ele subjacentes. Segundo sua doutrina, o verdadeiro conhecimento humano é essencialmente a herança de uma vida anterior em um mundo imaterial. O ato de ensinar seria, portanto, trazer à tona este conhecimento anterior (maiêutica socrática). Não tendo deixado obra escrita, seu pensamento é conhecido por referências, principalmente nos diálogos de Platão. Platão (427-347 a.C.) compilou e continuou a doutrina de Sócrates, apresentando grosso modo premissas semelhantes às dos pitagóricos. Dentre essas idéias, uma que teve longa continuidade na posterior doutrina cristã é a da efemeridade da vida face à perene eternidade. Sem examinar com detalhe as doutrinas de Platão, vamos nos deter num texto específico deste autor, voltado para uma descrição da gênese do Mundo, e alguns de seus ecos na ciência ocidental. É um texto que ganhou mais tarde um grande prestígio, em particular, no Renascimento. Trata-se do diálogo intitulado Timeu. Quase dois mil anos depois, no século XVI, o astrônomo Johannes Kepler embasava uma de suas obras sobre astronomia no texto do Timeu, cujo conteúdo é cotejado com o das Sagradas Escrituras : ``o Timeu ...é ...um pequeno texto sobre o primeiro capítulo do Gênesis, ou do livro I de Moisés, transformando-o em filosofia Pitagórica, como é manifesto a quem o ler com atenção e o comparar constantemente com as próprias palavras de Moisés.'' (Kepler, J,Harmonices Mundi IV 219 <117>). De acordo com o Timeu, o universo (ou mundo), teria sido criado por uma divindade que ``Isenta ...de inveja, quis que, na medida do possível, todas as coisas lhe fossem semelhantes.'' (Timeu 29e). Essa identidade entre o criador e sua criação tem um paralelo no Gênesis judaico-cristão, em que o Homem teria sido feito ``à imagem e semelhança'' (Gênesis 1,26) do criador, o que constitui provavelmente um dos paralelos entre as obras a que Kepler se refere. Segundo o Timeu, o Universo teria sido criado como um ``animal dotado de alma e de razão'' (Timeu 30b). Essa idéia do Universo como um ser vivo terá longa vida no pensamento ocidental. Mencionamos novamente Kepler que, defendendo o modelo de Copérnico, via a Terra não como o centro do Universo, mas como um planeta, com vida própria, afirmou: ``...o globo da Terra seria um corpo, como o de um animal...''. A Terra possuiria também uma alma - a Anima Terrae e mesmo uma ``respiração'' manifestada nas marés, semelhante à respiração dos peixes. O planeta Terra zoomórfico de Kepler tinha seu ciclo ``respiratório'' das marés, associado aos movimentos do Sol e da Lua, o que é considerado por Kepler uma semelhança com um ser vivo, claramente inspirado nos textos platônicos. Continuamos a cosmogonia do Timeu: O corpo do universo teria a forma perfeita proposta pelos pitagóricos, a esfera: ``Quanto à forma, concedeu-lhe a mais conveniente e natural. Ora, a forma mais conveniente ao animal que deveria conter em si mesmo todos os seres vivos, só poderia ser a que abrangesse todas as formas existentes. Por isso ele torneou o mundo emforma de esfera ...'' (Timeu 33b) A forma esférica teria virtudes especiais: ``...por estarem todas suas extremidades a igual distância do centro, a mais perfeita das formas e mais semelhante a si mesma ...'' (Timeu 33b)

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